Desde outubro que todas as semanas nos encontramos pelo menos duas vezes num espaço educativo muito agradável perto do centro da cidade. Desde cedo criámos, parece-me, uma gentil empatia e o seu esforço e determinação têm sido ingredientes extraordinários para a consecução dos objetivos que ambas estipulados.
Ocupamos a sala "Jacques Cousteau" de cor azul e com uma tartaruga gigante na parede acompanhada de uma citação do mesmo "Os que decidem sobre o amanhã devem avaliar o impacto no futuro.".
A simpatia e timidez revelam-se num sorriso aberto a cada minuto dos nossos encontros. Seja qual for o desafio ela aceita sem contestar as minhas opções.
Esta adolescente de ideias firmes, de quem sabe o que quer mas, principalmente, o que não quer para o seu futuro, sorria-me em mais um encontro semanal. Pedi-lhe para me contar algum episódio da sua vida no país onde passou 9 anos da sua vida. (Tinha-me avisado que não se sentia muito bem e que estava um bocado nervosa embora não entendesse porquê e eu achei que falar a poderia ajudar a esquecer o que quer que se passava.)
Assim me pareceu que estava a acontecer: o seu entusiasmo via-se em cada palavra e, por momentos, pensei realmente que as nuvens estavam dissipadas.
Entre recordações e correções o meu interlocutor cala-se e baixa os seus olhos já carregados de lágrimas. Fico em silêncio. Diz-me, então, "Fui discriminada, maltatratavam-me e tiravam-me o meu lanche no recreo. Fui vítima de bullying." O seu rosto voltou a baixar e eu fui na sua direção e abracei-a. O que se seguiu não interessa particularmente. O que interessa, o que não vou esquecer é que esta adolescente sofreu no silêncio durante anos, não esqueço o seu semblante nem o seu sorriso quando voltou a levantar a cabeça!
"A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável."
Mahatma Gandhi