sábado, 13 de abril de 2024

Sobre a Mente [de principiante]

Hoje escrevo sobre esta.

Há uns meses cheguei à conclusão que vivermos a nossa vida, considerando esta mentalidade de principiante e de aprendizagem constante é um dos ingredientes para vivermos bem (salvaguardando o que é "viver bem" para cada um de nós).

Deslumbrarmo-nos com situações, pessoas e conhecimento como se fosse a primeira vez que tivesse acesso a eles, mantém-nos mais atentos a tudo o que está à nossa volta e, neste sentido, mais presentes no aqui e no agora.

Encontrar em cada situação já conhecida uma oportunidade de aprender algo que ainda não se sabe ou se conhece é abrir a mente a novas formas de conhecimento e aprendizagem. É, de uma forma, um ato altruísta por termos a amabilidade de nos permitirmos ter acesso ao outro. Ao novo. Ao desconhecido.

A mente de principiante também nos coloca no nosso lugar. Também nos faz entender o nosso percurso e a nossa evolução. Reconhecê-los e celebrá-los, tendo a consciência de que há sempre outras perspetivas que ainda não são conhecidas e com as quais posso aprender mais sobre mim e sobre os outros, traz-me uma enorme satisfação.

Adotar uma mente de principiante é sobre ser humilde enquanto ao seu lugar como pessoa conhecedora, mas é sobretudo ter consciência sobre o que ainda falta conhecer.

Nunca sabemos demasiado sobre algo que não possamos conhecer sob outro prisma. Sob outros olhos. 

Ter a consciência de que não sei tudo abre uma possibilidade infinita de novas opções de aprendizagem e, reforço esta ideia, ter outra forma de equacionar o que está a acontecer.

Por vezes, é só isso que falta.

A mente de principiante também nos faz ser mais empáticos com quem começa. Com quem faz ou se aventura a fazer. E esta empatia surge da capacidade de entendermos a coragem de quem faz algo. (ponto) Não como nós fazemos ou fizemos, mas respeitando o seu percurso. Respeitando, nas palavras de Theodore Roosevelt, "o Homem que está na arena" porque, se o entendemos, significa que também lá estamos. 

E a vida, caríssimo leitor, é só sobre estar na Arena. Participar. Envolver-se. Caminhar. Agir. Ser audaz. Servir. Amar.

sábado, 30 de março de 2024

Sobre Vencer

 Sobre o Nuno {Dias}.

Conheci o Nuno em 2020. Ouvi-o falar sobre o processo que levou a equipa do Sporting Clube de Portugal - Futsal a ganhar a Liga dos Campeões em 2018/2019.

A sua maneira de comunicar. A análise que fez das diferentes etapas desse mesmo processo. Os pensamentos que partilhou e, principalmente, a familiaridade e simplicidade com que nos tratou fez-me simpatizar imediatamente com a sua forma de estar e ser.

Desde esse momento, até à atualidade, não vejo muitas mudanças no Nuno. E penso que é isso que a mim, e a outros tantos adeptos de boas práticas de desportivismo e de desporto bem jogado, nos cativa na forma de estar do Nuno.

Acredito que seja das pessoas ligadas ao desporto que mais consenso reúne. Clubismos à parte, reconhecemos nele uma forma honesta de analisar o jogo e de o perspetivar. Além disso, ainda tem a capacidade de comunicar essas ideias de uma forma clara para que, dos mais ou menos entendedores da modalidade, seja compreendido.

Gosto de o ouvir falar na antecipação aos jogos e na análise que faz dos mesmos, nem sempre a favor do seu clube. Dele espero sempre uma honestidade intelectual que apenas está acessível a alguns. 

Não penso que seja propositado. O Nuno é todo ele humildade, generosidade e respeito: pela modalidade, pelos adversários. É um acérrimo defensor e completamente apaixonado pelo treino. Pelos jogos, Por ganhar.

Na ronda de elite para a Liga dos Campeões deste ano que aconteceu no João Rocha, um jornalista perguntou-lhe se as vitórias ainda significavam o mesmo para ele, considerando que já ganhou tudo o que há para ganhar e bateu todos os recordes que há para bater.

O Nuno disse-lhe que há sempre mais para ganhar. Que todas as vitórias são diferentes, por muitas que já possam ter sido celebradas. Afinal de contas, quem é que se cansa de ganhar? De bater recordes?

Não é a vitória que se celebra (isto já sou eu a dizer!). É o desafio de crescer e aprender mais e melhor sobre a modalidade. De testar novas estratégias. De lidar com o desafio da vantagem ou desvantagem nos 40 minutos de jogo. É querer sempre mais: mais vitórias, mais troféus, mais recordes, mais alegrias para os adeptos e para os apreciadores da modalidade. É querer ser melhor treinador [pessoa] para servir (e entender) melhor os que com ele trabalham. 

Querer vencer é respeitar o jogo, o adversário e a modalidade.

Individualmente, o Mister Nuno já foi distinguido nacional e internacionalmente de muitas formas. A comunidade desportista reconhece-lhe uma autoridade natural no seio da modalidade. 

Desportivamente, é dos que mais me inspiram. Escrever sobre ele é redutor. 

O Nuno é dos bons. Dos que ficam na memória além dos tempos. Dos que ultrapassam fronteiras e rivalidades.

Obrigada, Nuno.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Sobre o treino

Tudo-é-treino 


Tudo.

 
Tenho ouvido esta frase muitas vezes nos últimos meses. 
Já antes a utilizava, mas à medida que o tempo passa, tenho vindo a encontrar-lhe outras referências. Tantas [referências] quantas as situações e desafios treináveis da vida. 


Tudo é treino. 

E isso depende, em grande parte, da nossa perspetiva sobre o que é treinar e das oportunidades que encontramos nessa ação para evoluirmos. 

Pela minha experiência, nem sempre o treino surge da forma que queremos. Ele tem muitas caras (e variáveis) e serve muitos propósitos para sermos nós a retirarmos dele o que nos faz falta para evoluirmos e aprendermos. 

Se o entendemos sempre?

Se a sua demonstração vem através de formas que nos são sempre favoráveis?

Nem sempre.


Algumas vezes é preciso afastarmo-nos do pensamento ordinário e confortável e abraçarmos um mais aberto, flexível e corajoso para lhe darmos significado. 


Tudo é treino.

Correr 5 km ou 21km. É treino.

Correr a 4:10 ou a 7:50. É treino

Caminhar. É treino.

Correr à chuva ( 1 km ou 50). É treino.

Treinar, 2 horas ou 30 minutos, quando não me apetece. É treino.

Não ceder a comparações. É treino.

Optar por alimentar-me de forma equilibrada. É treino.

Nadar mais 100 metros depois do treino. É treino. (e não mania ou elitismo).

Respirar fundo depois de uma discussão. É treino. 

Encontrar soluções para as dificuldades. É treino.

Ajudar alguém. É treino.

Gerir o esforço (do treino, do trabalho). É treino.

Encontrar uma oportunidade na dificuldade. É treino.

Trabalhar mais para um novo projeto. É treino.

Estar em família. É treino.

Dar oportunidade ao desconforto. É treino.

Permitir-me ser corajoso/a. É treino.

Dar atenção aos meus pensamentos. Interpretá-los e redirecioná-los. É treino.

Descansar. É treino.

Dormir bem. É treino.


(Decida o que aqui quer escrever). É treino.


Mesmo em situações inesperadas, ou principalmente nessas, pode encontrar uma forma de redirecionar a energia para lhe conferir utilidade e propósito.


Não sou hipócrita e sei o que o leitor poderá estar a pensar. 

Não. Não é fácil fazê-lo. Na maioria das vezes nem apetece. Há um certo conforto em nos sentirmos impotentes. Há algum alívio no discurso que privilegia a queixa e a desresponsabilização pessoal. Por vezes, sentirmos pena de nós próprios sabe bem. (Desculpe-me a crueldade das afirmações, não me refiro a si, caro leitor que certamente não o faz, este é um comentário puramente autobiográfico.)


Como qualquer competência, rotina ou músculo é preciso treino para desenvolver essa capacidade de canalizar a energia das dificuldades em oportunidades. 


Partilho o meu exemplo pessoal (vale o que vale, mas escrevo-o para que decida se vai me vai dar algum crédito sobre o que para aqui tenho vindo a escrever):


Depois de estipular um plano com o Bruno para fazer o meu primeiro trail longo (35.5 km), durante o primeiro quilómetro do treino, fiz uma contratura do glúteo piramidal. Tinha-me sentido bem até aí. Estava a fazer mais quilómetros do que tinha feito noutros processos de treino. Sentia que estava a desafiar-me e a evoluir. 


Era evidente que iria parar de treinar. Senti-o porque nunca tinha sentido aquele tipo de dor.


Concedi-me algum tempo para chorar, para maldizer a minha "sorte". Na verdade, para aquele conformo da queixa e da autocomiseração. Sim, caro leitor, pasme-se, também me acontece! 

No entanto, também sabia que não ia ficar aí muito tempo. Tinha a perfeita consciência que não era neste registo que queria ficar, principalmente porque não é nele que me reconheço e que reconheço a minha forma de pensar e agir.

Aproveitei, por sugestão das pessoas certas ao meu lado, para regressar à piscina. Passar mais tempo no ginásio. Treinar mobilidade. Reforçar a parte afetada, não no imediato, mas nas semanas seguintes.

Quando estava a explicar-me o plano de treinos para os 35.5 km, o Bruno disse-me claramente que era importante, como parte integrante do treino, que me colocasse em situações onde treinasse durante várias horas seguidas (sem olhar a tempos e/ou km), o que para esta situação em específico tive de adaptar. 

Além disso, também me disse algo que fez muito sentido (na teoria porque na prática os desafios para o executar são muitos):  que fizesse atividades físicas que me permitissem treinar a minha resistência ao aborrecimento (35.5km, são diferentes de 18 km, a distância que estava/estou acostumada a correr na montanha).


Ele ter-me dito isso e ter entendido a sua utilidade foi um trampolim para uma nova etapa. Não podia correr, mas podia treinar outros aspetos: ser resiliente à dificuldade. Gerir os meus pensamentos, tornando-os mais otimistas e realistas. Lidar com o aborrecimento do tempo em treino. Em suma, fortalecer-me noutros aspetos e ver o processo de treino de uma forma mais ampla e multidisciplinar.

Vou poupar-lhe a si o aborrecimento de escrever sobre as sessões dolorosas de eletropuntura e em como durante esses 10 minutos (3 sessões seguidas, em 3 semanas), transformei essa dor na visualização do esforço de chegar à meta (não vai ser já, mas vai acontecer!) depois de concluir 35.5 quilómetros na montanha. É tudo uma questão de perspetiva e de direção.


A forma como escrevo, agora já mais afastada da situação, corresponde à forma como lidei com os desafios? Algumas vezes. Nem sempre. Faz parte da evolução termos também essa perceção. 

Por isso é que lhe lanço o repto:

Treine. Treine muito. Todos os dias. 

Nem sempre pode escolher as circunstâncias, mas é da sua responsabilidade escolher como reage. O treino é na verdade esse, mais do que o resultado que nem sempre corresponderá ao que queremos, pelo menos não imediatamente. (Mais uma crueldade em forma de escrita, caro leitor, eu sei.)



Tudo é treino. 

Qual é que vai ser o seu próximo?


domingo, 17 de setembro de 2023

Sobre "Ir com tudo"!

 Nada te pode parar.

Nada!
No início de mais um ano letivo, deixo aqui aquilo que, na minha opinião como profissional (dentro e fora da sala de aula), mais contribui para o #sucesso (seja lá o que signifique para cada um de nós)
1 - acreditar firmemente mas suas capacidades e/ou na capacidade que tem para mudar a sua situação: definir um plano ou pedir ajuda.
2 - se quero algo diferente (e isto só acontece se experimentarmos outras opções e caminhos e errarmos), há necessariamente algo diferente que posso fazer para mudar isso.
3 - para fazer algo diferente (e muitas vezes assustador dentro do que conheço e me é familiar) é preciso arriscar. Fazer algo pela primeira vez. Pedir ajuda. Assumir que me enganei. Abraçar a mudança ou agarrar uma oportunidade.
4 - os outros. Não vivemos isolados. Na escola, no trabalho
, nas interações sociais. Parte do sucesso também está na ajuda ao outro. Como posso servir e, quem sabe, colocar os meus dons/talentos ao seu serviço. Uma palavra. Um gesto. Um abraço ou um sorriso.
5 - exercício. Movimento de corpo e mente. É fundamental para um melhor equilíbrio quando os desafios chegam.
6 - ser positivo e otimista. Mas principalmente ser realista. Permite-te sentir o que é suposto sentir, sem esconder. No entanto, foca-te na solução e na capacidade de mudar a situação.
Um ótimo ano letivo a tod@s!
Que seja um ano extraordinário e cheio de aprendizagens!
Um post com a inspiração de Nicola Cafés

domingo, 30 de abril de 2023

Sobre os amigos [de circunstância ]

Já aqui escrevi sobre eles. Hoje volto a relembrar esses e estes. 
Obrigada aos final 10 + 1 (o Coach).

Os amigos de circunstância surgem na nossa vida numa determinada circunstância, mas não é por acaso que nela permanecem. 
Os amigos de circunstância não nos conhecem de há anos, mas tratam-nos como se assim fosse. É isso que os torna excecionais: estão naquela circunstância para nos desafiar. Eles sentem algum prazer em deixar-nos desconfortáveis. Ouvem o que temos para dizer e entendem o que não dizemos. Os amigos de circunstância inquietam-nos sem constrangimentos; não duvidam em fazer aquela pergunta difícil; espicaçam as nossas muralhas e promovem a sua expansão. 
Os amigos de circunstância permitem-nos falar durante o tempo que quisermos sobre os nossos assuntos e no final, dizem-nos sem qualquer pudor, “Bullshit”. Os amigos de circunstância são ousados. Até nisso eles podem (e devem) sê-lo. 
Os amigos de circunstância conseguem deixar-nos em silêncio e respeitam-no. Eles, os amigos de circunstância, são autoridade. A sua experiência, o seu conhecimento, o seu exemplo conferem-lhes esse estatuto. Mas um amigo de circunstância não se vale disso: ele é genuinamente generoso a tirar-nos o chão ou a ser rede. 
Os amigos de circunstância celebram as conquistas. Alegram-se por elas. As nossas passam a ser as deles também. Torcem pelo sucesso dos nossos sonhos, comovem-se com eles. 

Os amigos de circunstância nunca vão embora. Nunca se despedem. Eles estarão presentes enquanto a memória da circunstância o permitir.