Há uns dias regressei de mais uma estadia na capital.
Na Baixa-Chiado encontrei Fernando Pessoa que cumprimenta generosamente os que por aí chegam à cidade. É sempre inspirador começar o passeio na sua companhia e eu por muitas vezes que lá possa ir não me canso de o admirar. Daí até ao miradouro do Adamastor não demorou muito tempo e a paisagem, não sendo novidade, continua a deslumbrar. Regresso às ruas de uma cidade apressada, de buzinas e azáfama cosmopolita e desemboco na afamada Praça da Alegria e, sem me dar conta, estou na Avenida da Liberdade onde em Junho, em comemoração do Santo Padroeiro, desfilam as marchas dos bairros que compõem o ADN desta Lisboa.
Dos Restauradores ao Rossio, sem parar, percorro outras ruas que me levam até à heterogeneidade patente em cada rosto dos que cruzam o Martim Moniz e alguns passos depois, sem saber exatamente como, estou no Miradouro de Santa Luzia e no Museu do Teatro Romano. Na Graça, outro ponto essencial deste passeio: o miradouro sobre a cidade, o Castelo, o Tejo, a Ponte 25 de Abril, as Ruínas da Igreja do Carmo e tantos outros pontos de interesse. Altura ideal para colocar algumas coisas no papel e refrescar-me com uma garrafa de agua.
Alfama, ainda engalanada com as cores dos Santos Populares, abria-se no horizonte com o labirinto de compridas e estreitas ruas. Em Alfama sente-se o batimento cardíaco da cidade, das suas gentes castiças, do bairrismo, do tradicional, das escadarias intermináveis a uma hora em que o calor se fazia sentir de uma forma intensa. Assim como rio que desemboca no mar fui encontrar, depois de descer umas quantas escadas, uma praça na qual estava situado um dos pontos que queria visitar desta vez: Museu do Fado.
Peço desculpa ao paciente leitor que deverá estar a questionar-se sobre a pertinência do tema tendo em conta o que até aqui foi escrito. Na realidade, caro leitor, a pertinência revelar-se-á nas linhas que se seguem.
O Museu do Fado. As letras negras num fundo verde faziam-no anunciar e eu deslizei para o seu interior sob una hipnose (não sei se pelo calor, pela excitação ou por ambos!) e nesse momento revi o sentimento que experimentei em lugares como o Panteão Nacional ou em situações como cantar o Hino Nacional ou ouvi-lo entoar por um grupo numa praça cheia de gente numa cidade estrangeira depois de estar 6 meses longe da Pátria. Nesse momento senti que estava a revelar-se-me o que somos, a nossa história, aquilo que geração após geração herdamos dos nossos antepassados, não dos antepassados individuais mas dos antepassados coletivos que fazem com que sejamos o que somos hoje.
A visita ao Museu do Fado durou o tempo necessário para ser inesquecível, para me proporcionar momentos de nostalgia, para aprender, para me emocionar, para me orgulhar e para querer voltar.
O ser português é assim: sério, genuíno, apaixonado, comovido, arrebatador, bom garfo, sorriso nos lábios e algo resignado. Ser português é algo que se sente, é ser-se gente!
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