terça-feira, 15 de julho de 2025

Sobre o Liderança

 Julho é mês de Tour.

Há um ano, num zapping casual pelos canais de desporto, fixei-me na transmissão em direto do Tour de France na Europort.

O tom coloquial e divertido dos intervenientes fizeram manter-me ligada. Depois desse dia, veio o seguinte e vieram, naturalmente, outros. Dei por mim, assim a disponibilidade o permitisse, ligada aos comentadores, às suas histórias, às suas apostas, ao seu conhecimento. Lá fui eu de mão dada com o Olivier, o Paulo, o Luís, o Gonçalo e o José passear por esse mundo novo das etapas, do líder da Classificação Geral, do líder por Pontos, da Juventude e da Montanha. Dos sprints, do número das categorias, dos gregários, das estratégias, das bonificações e das pendentes de desnível. Obrigada!

É realmente a prova de ciclismo de excelência, aquela onde todos anseiam estar e ser protagonistas. 

Este ano tenho acompanhado o Tour de France, uma vez mais, nos canais da Eurosport

Este ano, além da evidente competição entre a estrela Tadej Pogačar e a rivalidade com Jonas Vingegaard e Remco Even Poel, além das enormes expetativas fundadas sobre o que poderia fazer o João Almeida, num ano em que a sua forma física e, acredito, mental está num patamar de excelência,  o Le Tour de France já conta com outras histórias. Daquelas que fazem do ciclismo, como ouvia o Luís Piçarra referir, um desporto de equipa.

Não sou entendida, nem especialista. E é assim que este texto deverá ser lido. 

Sou observadora e entusiasta de desporto, nomeadamente o de alto desempenho. É nesta perspetiva que partilho aqui 3 histórias desta primeira semana de Tour de France.

A primeira, [Sobre celebração]

Numa das etapas da primeira semana [a 4ª ], João Almeida depois de recuperar contacto com o grupo da frente e de se colocar na dianteira imprimindo um ritmo forte aos últimos quilómetros, leva Tadej Pogačar à sua 100º vitória. Um marco suficientemente histórico para podermos escrever sobre ele, mas redutor se observarmos a sua chegada à meta. Aí, vemos um sprint diabólico nos últimos 100 metros e no mesmo momento em que vemos a chegada à meta do homem da UAE, vemos, não muito distante, o João a celebrar essa vitória. 

Foi a imagem que retive. Uma imagem bem condizente com o espírito de uma equipa que faz o que deve ser feito, em equipa, e celebra as vitórias individuais também. E isso é tão bonito como raro. 

É bonito, no sentido de atitude, porque trás à superfície uma atitude altruísta de genuína entrega.

É raro porque cada vez demonstramos menos o nosso reconhecimento e felicidade pelas vitórias alheias. 

Sejamos mais um João Almeida desta vida!


A segunda, [Sobre Liderança]

Tadej Pogačar, líder da equipa da UAE, tem demonstrado que ser líder de uma equipa é mais do que ganhar uma prova ou fazer a equipa trabalhar para ganhar uma prova. Não preciso escrever aqui, até porque o meu desconhecimento não me permite fazê-lo, as capacidades e o currículo inacreditável que o ciclista tem. 

Tadej Pogačar é líder pelos resultados, mas é líder, e perdoem-me a redundância, na atitude de liderar. 

Depois da queda aparatosa na etapa 7 e ainda com um prognóstico reservado sobre a sua continuidade no Tour, Tadej, que venceu novamente essa etapa, não só elogiou João Almeida, reconhecendo-lhe importância no seio da equipa, como lhe dedicou a sua vitória. 

No início da etapa 8 João Almeida, que não obstante os condicionalismos físicos de escoriações e fratura decidiu alinhar, não esteve sozinho. Os colegas revezaram-se para o acompanhar nos primeiros momentos. Também as imagens na televisão mostraram Tadej ao seu lado. Nesse dia, mais palavras de conforto e elogio à sua atitude de resiliência e perseverança. 

Na etapa 9 a desistência de João Almeida e outras palavras de reconhecimento pelo trabalho e atitude do ciclista português.

Ser líder é isto. É estar lá, mesmo quando se está a fazer o seu trabalho e a lutar pelos seus resultados.

É estar ao lado e mostrar apoio: com palavras e/ou com atitudes. É aproximar quem, por algum motivo, se vai embora. É incentivar quem vê o objetivo adiado. 

As características de Tadej e a sua capacidade de ultrapassar recordes está à vista de todos. A elas juntam-se, para mim, estas que fazem os verdadeiros campeões. Os gentlemen da estrada [ou da vida!].


A terceira, [Sobre Sonho]

Jonas e Mathieu. Dois amigos. A mesma equipa. 

Numa conversa ao final da tarde Jonas comenta com Mathieu que tem o sonho de subir ao pódio do Tour de France, talvez com o prémio da combatividade. 

No dia seguinte, ambos saem disparados para aquilo que seria uma fuga nos primeiros km´s após o inicio da etapa. Aí estiveram eles 174 km na frente, em fuga sem adversários além deles próprios. Do seu esforço desmedido. Do seu suor e de dar oportunidade ao sonho. 

Não houve pódio na etapa, mas houve pódio no Tour de France. Comoção pela conquista de Jonas Rickaert e Mathieu Van Der Poel. Nas entrevistas rápidas após a chegada à meta Mathieu falou sobre o sonho de Jonas e sobre ajudá-lo a cumprir esse sonho [a ideia era dar-lhe a etapa, caso conseguissem manter a vantagem]. Jonas falou do sonho e comoveu-se, comovendo-nos. Nunca é demasiado tarde. 

É tudo o que precisamos: Expressar o nosso sonho e depois ter alguém que acredite nele e nos ajude a conquistá-lo. Tudo o que precisamos é ter um Mathieu Van der Poel na nossa vida. 


3 breves histórias sobre a outra parte do Tour. Aquela parte que resolvi partilhar. Uma perspetiva redutora e muito enviesada do que resolvi retirei dessa primeira semana.  

O alto rendimento não é para todos. É um facto. Já a atitude de excelência é. Não é preciso ser um atleta de alto rendimento, de topo e pódio para adotar uma mentalidade de excelência, de topo e de alto rendimento. É tudo uma questão de decisões. 

#tourdefrance

#TDF

#altorendimento

#mindset


Sem comentários: