Quando preparo uma aula há inúmeros aspetos em que penso: o que é primordial que aprendam (comunicativa, lexical e lingusticamente); que competências vou desenvolver; como vou desenvolver as aulas para lecionar determinados conteúdos; como é que os meus alunos vão reagir (se vão gostar ou não); como vou promover a expressão oral em língua estrangeira (uma preocupação essencialmente para os alunos do primeiro ano de língua) e também equaciono as minhas (re)ações.
Numa das minhas aulas de 7º ano o tema a desenvolver era a "Descrição Física", como sempre faço quando começo algum conteúdo lexical que é propício ao debate/expressão oral, coloquei algumas frases sobre "Beleza" e outras frases (dar a opinião/mostrar acordo e desacordo) que ajudariam os meus alunos a expressarem-se oralmente em língua estrangeira.
Questionei-os sobre a real importância da beleza; dos critérios para se ser belo ou não o ser; sobre os parâmetros de beleza atuais e a questão da beleza-os-outros-e-as-suas-opiniões. Foi um início de aula bastante tranquilo com expressão oral q.b e com a participação de todos.
A propósito da diferença (em contexto de beleza!) falei-lhes naturalmente e de uma forma totalmente espontânea de uma situação que a turma vive. Fi-lo através de analogias e comparações mais ou menos diretas. Eu penso que a mensagem chegou e anseio que a "semente" tenha sido plantada em alguns deles. Quase todos ficaram a pensar nisso e pelo menos 3 ignoraram-na completamente. O desafio agora é regar a semente com paciência, entusiasmo e dedicação. Talvez possa tornar-se numa árvore frondosa e vigorosa. Não é fácil ser diferente numa sociedade que formata adolescentes (e adultos!) de acordo com determinadas (e muitas vezes erradas) regras e preceitos sociais. Não é fácil ser diferente e mesmo assim ser "fixe". Não é fácil ser diferente quando é suposto ser igual aos outros, fazer o que os outros fazem, pensar como os outros pensam. Não é fácil ser diferente mas talvez se possa entusiasmar e motivar os adolescentes a, pelo menos, fazerem a diferença em situações diária de convivência.
A mensagem transmitida nesse dia foi muito próxima da de Agostinho Silva que agora partilho. Encontrei-a a semana passada quando procurava poemas para comemorar o dia de São Valentim lá na escola.
Ser Diferente
A única salvação do que é
diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a
rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que
ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos
rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei
passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas
para os outros, não para ele, que as percebe — há de provocar o respeito e
dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu;
e elas um dia hão de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer
tempo defender dos ataques dos lobos.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'
Na quarta-feira passada dinamizei mais uma atividade a pares e no final da aula uma aluna aproximou-se de mim e disse-me em sussurro: "A professora fez esta atividade hoje para realçar a mensagem da última aula não foi?" Eu não disse nada, ela sorria e senti que esperava uma resposta. Pisquei-lhe o olho e disse-lhe "Tu és perspicaz M.!" Ela não sabe mas fez a diferença no meu dia!
Obrigada M. é também por ti que vale a pena!