terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sobre a Rentrée

Setembro é, por excelência, o mês dos Estudantes, do regresso à azáfama escolar depois de dois meses sem aulas. Faro, por ser uma cidade que recebe universitários dos mais diversos pontos do país, não foge à regra. Esta mesma cidade que, nos meses de Verão quase se vê privada do corrupio característico das actividades estudantis, ganha vida, música e cor nestas primeiras semanas do mês.
Mesmo estando afastada das lides académicas, não pude deixar de comparecer na Semana de Recepção ao Caloiro da Universidade do Algarve que começou na passada segunda-feira, dia 21, e se prolonga até à próxima sexta-feira, dia 2 de Outubro.
O Largo de S. Francisco é, este ano, o palco escolhido para a apresentação dos caloiros à comunidade académica e lá desfilam orgulhosamente veteranos, académicos, mancebos e caloiros.
Para quem já conhece o espírito do Recepção ao Caloiro, sabe que é um espaço que privilegia o convivio e foi essencialmente por isso que na passada quarta e quinta-feira me desloquei até lá acompanhada das "minhas" meninas! Como sempre acontece, diverti-me bastante na sua companhia e reencontrei alguns amigos que já não via há algum tempo.
Combinam-se jantares e futuros reencontros, é a vida que volta à cidade!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre o Sonho

Hoje acordei com a sensação de que o meu sonho tinha, efectivamente, acontecido.
Como a noite anterior fora bem regada, procurei uma dor de cabeça ou algum mal-estar físico: vestígios de ressaca não existiam. Em mim e comigo só habitava aquela escabrosa sensação de inércia e apatia que, por mais que me esforce, não consigo explicar.
Levantei-me e fui, descalça como de costume, lavar a cara que, além de ter o vinco da almofada, não escondia a violência da noite anterior.
Sentei-me no confortável sofá da sala e olhei para o dia de sol. Mais descontraída, ou pelo menos com mais certeza de que já estava, realmente, acordada liguei a televisão e fiz um zapping pelos canais da Meo.
Sem qualquer aviso prévio, sem uma música, imagem ou atitude que o fizesse adivinhar, percebi que as lágrimas caíam copiosamente pelo meu rosto.
Foi exactamente nesse momento que voltei ao sonho, nele eu tinha-me apaixonado.
"Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son. "
Pedro Calderón de la Barca, La Vida es Sueño.

sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre a Mudança

Tenho-me referido a mim mesma como "um Ser-Humano insatisfeito por natureza". Não me parece que seja algo de extraordinário porque a insatisfação é uma característica que está inerente à condição do Ser-Humano.
Depois de quatro anos passados no "51", como carinhosamente foi sendo chamado o t3 onde, até ao final do mês viverei, decidi que estava na altura de mudar.
Neste espaço de excepcionais dimensões, senti-me verdadeiramente em casa. Nele moraram pessoas também elas excepcionais que tiveram para comigo uma simpatia extrema e uma amizade incondicional. Penso que foi recíproco!
Recordo-me dos amigos que se auto-convidavam para vir cozinhar cá a casa. Dos pequenos-almoços oferecidos depois de uma noite de copos na "Rua do Crime"; dos jantares de aniversário, dos lanches com o bolo de chocolate feito através de uma receita da net; da casa cheia em fim-de-semana do Moura Encantada; da sala que depressa de tornava no quartel-general do mesmo festival: cenário para filmagens, reuniões, "escritório".
Belos momentos, momentos INESquecíveis.
A Professora Doutora Maria de Lurdes Cabral, mulher de uma sensibilidade e inteligência fenomenais, numa das aulas destinadas à Didáctica das Línguas, fez referência à dificuldade que o Homem tem de mudar e de aceitar a mudança. Dizia-nos que o desconhecido é um obstáculo à mudança uma vez que temos a tendência para recear o que não conhecemos.
Neste momento em que estou "em mudanças", não deixo de sentir esse receio de quem parte para uma nova aventura sem mapa para se poder guiar convenientemente.
Na bagagem, extensa porque em quatro anos acumulamos, inevitavelmente, muitas "recordações", levo uma única certeza: esta mudança era premente.
É essencialmente isso que me motiva: saber e, sobre tudo, sentir que ela, mais tarde ou mais cedo, teria de acontecer.

Estou animada e feliz por não ter cedido ao comodismo mometário, sentimental e profissional.

Emmanuel Kant, filósofo alemão, diz que "Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço."
Se assim é, não tenho dúvidas de que o que vier a partir de Outubro será, com certeza, melhor!

domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre a Caravana

Não me recordo da última vez que fui ao teatro mas o regresso foi extraordinário.
Ontem, após um convite da amiga Sara, que aceitei de imediato, fomos ao Teatro das Figuras, em Faro, ver a A Caravana posta em cena pelo Teatro Meridional, sobre o qual a Sara me tinha fornecido as melhores referências.
Ao longo dos sessenta e cinco minutos de duração da peça, o espectador envolve-se na história da Rota da Seda que tornou o Oriente e o Ocidente mais próximos. Esta história é contada através de pequenas histórias nas quais se revelam personagens fragéis, cruéis, apaixonados, decididos, visionários ou cómicos.
Numa viagem pelo espaço virtual do Teatro Meridional encontrei-me com uma espécie de sub-titulo da peça e, por rever nele o meu pensamento, transcrevo-o aqui: A Caravana é "Um espectáculo sobre a singularidade do indivíduo e a sua identidade colectiva."
A sonoplastia e o espaço cénico foram ingredientes importantíssimos que permitiram ao espectador penetrar nos meandros da concepção da seda e do seu transporte até outros países/continentes.
De Pequim a Veneza, a "seda" transforma o cenário e lá estamos nós, uma vez mais, a partilhar o palco com imperadores, mercadores e pastores. Cada um deles enuncia a sua própria "rota" individual, o caminho a percorrer entre si e o seu próprio ser. É esse percurso interior que faz nascer a identidade colectiva.
Caracteriza-se como uma companhia "vocacionada para a itinerância" e, por esse motivo, se o texto o interessou poderá consultar a agenda para o mês de Setembro e Outubro na página mencionada antes.
Aproveito, também, para referir que estará em cena, de 16 a 27 de Setembro, no Teatro Meridional a peça "A Casa de Bernarda Alba" de Francisco García Lorca pelo Teatro da Terra.
Nenhum momento melhor do que este para reflectir sobre a melhor rota a traçar nesta fase do caminho. Tenha eu lucidez e paz de espírito para a fazer.

sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre a Morena.

Começou hoje, na Recreativa Rica - Olhão, o Rotas da Dança. É, segundo o meu ponto de vista, uma especie de festival de dança que combina workshops de Dança Oriental, Kizomba, Capoeira e Flamenco com gastronomia típica dos países e, à noite, apresentações ao público. O dinheiro angariado servirá para restaurar a referida Recreativa que precisa de obras, situação que me parece de uma nobreza extrema.
A cerimónia de abertura esteve a cargo de Denise de Carvalho, professora de dança oriental cujo CV não caberia neste espaço, Mirsalah e alunas da Recreativa Rica. O espectáculo foi belíssimo e quem até lá se deslocou não ficou desiludido e tenho a certeza que, como eu, voltará nos dias seguintes. Eu fiquei deslumbrada por vários motivos.
Em primeiro lugar, porque o espaço, a noite e a companhia (a aluna, a doce, a sorridente, a simpática, a divertida Neide) foram ingredientes imprescindíveis para o ambiente acolhedor da apresentação propriamente dita. Depois porque o talento, a graciosidade, o "profissionalismo" e coordenação das bailarinas, aliado às músicas, transportaram-nos para outra cultura.
Por último, e perdoe-me o leitor a opinião tendenciosa, porque a fantástica Denise de Carvalho estava lá. E, caro leitor, se conhecesse o trabalho dela, o seu talento e dedicação, saberia exactamente do que estou a falar.
Ela é Bailarina profissional, professora e coreógrafa; integrante do CID (Internacional Dance Council - Unesco); é Bailarina na Companhia Internacional de Dança de Hossam e Serena Ramzy; foi Professora dos Cursos de Primavera e de Verão, 2008, de Dança Oriental na Escola de Dança do Conservatório Nacional, entre muitas outras coisas.
Mas hoje ela é só a "Morena".
É sobre ela, uma das mulheres mais lindas que conheço (nas várias acepções da palavra), que escrevo.
Conheci-a através de uma amiga, não falámos muito mas tinhamos um pedido: actuar no I Moura Encantada. Sem grandes problemas, aquiesceu. Posteriormente, trabalhámos juntas e formámos, juntamente com a Sofia, a Irmandade da Sardinha Assada que tinha a sua sede na Cruz Vermelha Portuguesa - Faro. Foi um Verão em grande: muita sardinha, muitos almoços, muita sangria, muitas conversas. Enfim...puro companheirismo.
Somos vizinhas e vejo-a tantas vezes como vejo os meus pais (que moram a 300km) mas quando nos encontramos voltamos àquele Verão. O que interessa aqui é que ela tem estado nos melhores e piores momentos da minha vida aqueles que é tão difícil partilhar. Dela tenho ouvido palavras de compreensão, de ânimo ou de censura quando é preciso. O seu jeito, a sua ternura, o seu olhar doce, o seu humor, o seu mau-feitio de sagitário, o seu altruismo e, principalmente, a humildade com que lida com o sucesso cativaram-me e eu acho que, de alguma forma, a cativei também. Sou, por isso, uma privilegiada.
Obrigada "Morena"!!
O Rotas da Dança só termina no domingo e até lá pode ainda participar nas actividades ou provar a gastronomia.
Tenho a certeza que não se vai arrepender.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sobre (RE)começo(s).

Esta é uma época do ano em que, para alunos e professores, as expectativas se renovam.
Uns, porque esperam que seja um ano decisivo nas vidas e porque depositam (eles e os seus encarregados de educação) nele um novo ânimo. Tudo, para eles, contêm energia (muitas vezes ilusória ou superficial): novos livros, os cadernos (o material escolar em geral), os colegas (os que já conhecem e os novos) ou os professores (pelo menos alguns porque eles sabem reconhecer quem gosta deles, quem os respeita, quem por eles se esforça e trabalha!)
Outros porque vêm confirmadas algumas ansiedades típicas da profissão docente, nomeadamente a deslocação/permanência em escolas que foram da sua preferência. Para esses, tudo volta ao início: novos alunos, novos colegas, novos directores, novos funcionários, nova cidade, novos hábitos... Esses redobram a força, o entusiasmo, a paciência e a criatividade para inovar em mais um (re)começo do Ano Lectivo.
Dir-me-à o leitor que haverá excepções nuns e noutros. Não podia estar mais de acordo! Aliás, considero, que as excepções não só servem para confirmar a regra como também as podemos observar em todas as profissões.
Neste início de Ano Lectivo vale a pena deixar uma mensagem de optimismo e ânimo aos meus alunos e aos amigos "de circunstância" que fui conhecendo.
Sísifo
Recomeça…Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII
Bom Ano Lectivo!