Há sensivelmente quatro semanas comecei um curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores através da Empresa Valor Por Medida.
Apesar de todos os receios inerentes ao início de mais um projeto que eu saberia poder vir a ser de crescimento pessoal e profissional as expetativas estavam (e continuam a estar) elevadas. Tenho a certeza que ao longo dos próximos dois meses escreverei sobre outras inesquecíveis lições.
As sessões são ministradas aos sábados. Oito horas de trabalho num dos dias destinados ao descanso semanal que passam num abrir e fechar de olhos e que compensam cada hora a mais da minha semana para me conseguir organizar.
Numa sessão destinada ao perfil do formador e concretamente à necessidade de este ser empático e de saber colocar-se no lugar do outro [do formando]; perceber as suas necessidades e motivações/interesses e respeitar a sua experiência profissional e pessoal e com elas poder formar e simultaneamente aprender, um dos formandos queixava-se da falta de flexibilidade das pessoas mais velhas (e com mais experiência) com quem trabalha que demonstram alguma intransigência em relação à opinião de trabalhadores mais jovens.
O formador disse então algo que nos deixou pensativos e até mesmo escandalizados... "Oh M. se você se irrita, a culpa é sua. Não duvide!" Não esmiuçou muito o assunto mas deixou transparecer que somos nós quem tem a opção de decidir entre o estar irritado ou não. Sobre aquilo que nos irrita ou não irrita. Assim como estabelecer prioridades que nos façam estar bem, relativizar, dedicar forças e empenho ao que realmente podemos e está ao nosso alcance controlar/mudar.
Hoje estive em leituras cibernéticas e encontrei um texto que expressa de uma forma irritante os efeitos da irritação. Transcrevo-o em seguida para que o meu estimado leitor pense no que realmente o irrita. mas peço-lhe que pense também se é prioritária essa irritação ou se a pode guardar para depois de dar uma palavra amiga a alguém ou aproveitar a época para enviar as tradicionais (mas não aquelas óbvias!) mensagens de Natal. Não se irrite, não hoje pelo menos...além de todos os males que vêm descritos a seguir, vai querer ficar com essa culpa?
Se fôssemos contabilizar as paixões desta vida, os
ódios e os amores, os grandes sobressaltos, as comoções, os transtornos, os
arrebatamentos e os arroubos, os momentos de terror e de esperança, os ataques
de ansiedade e de ternura, a violência dos desejos, os acessos de saudade e as
elevações religiosas e se as somássemos todas numa só sensação, não seria nada
comparada com o peso bruto da irritação. Passamos mais tempo e gastamos mais
coração a sermos irritados do que em qualquer outro estado de espírito.
Apaixonamo-nos uma vez na vida, odiamos duas, sofremos três, mas somos
irritados pelo menos vinte vezes por dia. Mais que o divórcio, mais que o
despedimento, mais que ser traído por um amigo, a irritação é a principal causa
de «stress» — e logo de mortalidade — da nossa existência.
É a torneira que pinga e o colega que funga, a criança
que bate com o garfinho no rebordo do prato, a empregada que se esquece sempre
de comprar maionnaise, a namorada que não enche o tabuleiro de gelo, o namorado
que se esquece de tapar a pasta dentrífica, a nossa própria incompetência ao
tentar programar o vídeo, o homem que mete um conto de gasolina e pede para
verificar a pressão dos pneus, a mania de pôr o pacotinho vazio de açúcar
debaixo da chávena de café, a esferográfica de Mário Crespo... é por estas e
por outras que as pessoas se suicidam. E têm toda a razão.
É nos engarrafamentos, na bicha do supermercado ou do multibanco, no cinema atrás do cabeçudo que não nos deixa ver, no autocarro cheio de gente, que somos diariamente irritados. Há-de reparar-se que as pessoas que mais nos irritam são as que estão à nossa frente. São estas as pessoas que demoram, que levam horas a tirar o porta-moedas para pagar o táxi, que insistem em passar um cheque para comprar um quilo de cebolas e uma embalagem de Super-Pop, que se mexem na cadeira e desembrulham rebuçados durante a cena mais dramática do filme, que têm um tempo de reacção ao semáforo verde de aproximadamente 360 segundos, que pagam as contas da água, da luz e do telefone ao Multibanco, que se esquecem de tomar banho antes de usar um transporte público e depois insistem em esfregar-se contra quem tomou.
É nos engarrafamentos, na bicha do supermercado ou do multibanco, no cinema atrás do cabeçudo que não nos deixa ver, no autocarro cheio de gente, que somos diariamente irritados. Há-de reparar-se que as pessoas que mais nos irritam são as que estão à nossa frente. São estas as pessoas que demoram, que levam horas a tirar o porta-moedas para pagar o táxi, que insistem em passar um cheque para comprar um quilo de cebolas e uma embalagem de Super-Pop, que se mexem na cadeira e desembrulham rebuçados durante a cena mais dramática do filme, que têm um tempo de reacção ao semáforo verde de aproximadamente 360 segundos, que pagam as contas da água, da luz e do telefone ao Multibanco, que se esquecem de tomar banho antes de usar um transporte público e depois insistem em esfregar-se contra quem tomou.
Miguel Esteves Cardoso in Ano Comum
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