sábado, 19 de janeiro de 2013

Sobre o Caminho [v]


Dia 4.

Negreira - Santiago de Compostela.

26 km aproximadamente.

O dia estava envolto numa neblina e antes de nos fazemos ao Caminho fomos dar uma volta pela Vila. Era cedo e estava ainda tudo muito deserto. Não chovia o que me lembro de ter sido para nós uma motivação extra além da que tínhamos por ser este o dia que menos quilómetros nos reservava. Os meus pés estavam efetivamente bastante melhores do que na noite anterior: havia mazelas e o cansaço muscular era realmente enorme mas as feridas estavam tratadas e era momento de nos pormos ao caminho. O meu joelho, que já tinha acusado algum cansaço, nesse dia não deixou de me fazer recordar o quanto aquela aventura o estava a cansar.
Saímos cedo de Negreira e, não sei se por ser já o último dia, pareceu-me que a paisagem não era tão densa como nos dias anteriores. Havia mais "civilização" e menos vegetação à nossa volta. Pudemos ver durante quase todo o caminho, toda a paisagem, a variadíssima e riquíssima paisagem galega em tons verdes que nem o verão faz desaparecer. Lembro-me de me sentar sobre uma ponte, a Ponte de Maceira e de aí tirar uma fotografia que há muitos anos está guardada no computador que desastradamente deixou de funcionar.
Lembro-me que o sol brilhava e que os quilómetros aproximavam-nos com mais celeridade do nosso destino. Acho que estávamos com tanta vontade de chegar que tínhamos medo que esse momento acontecesse e deixássemos para trás todos aqueles sentimentos que estavam inerentes ao Caminho.
No Monte do Gozo vimos Santiago ao longe, com o sol a iluminar o cinzento das casas e a imponente Catedral. Foi para lá que nos dirigimos para realizar o ritual característico de todos os peregrinos que chegam a Santiago.
Quando chegámos não entrámos imediatamente mas antes sentámo-nos no chão, tendo ali à nossa frente aquele fantástico testemunho de fé. Não sei bem em que pensávamos mas talvez no enorme orgulho que sentíamos por termos ultrapassado as adversidades do Caminho e estarmos ali, no nosso destino, como 4 dias antes nos tínhamos proposto. Dissemos algumas palavras de circunstância, um abraço de fraternal cumplicidade, uma fotografia para a posteridade e entrámos na Catedral.
Depois de realizar todo o ritual sentei-me num dos bancos da frente, olhei para Ele e sorri. Agradeci-Lhe ter-me dado a oportunidade de ter feito este Caminho sem consequências físicas mais graves do que as que poderia ter tido. Agradeci a experiência que 6 meses antes tinha começado. Agradeci a companhia daqueles que eram a minha família e que sem saberem fizeram parte de uma das viagens mais importantes que realizei até à data.

Abraçámo-nos uma vez mais, despedimo-nos e seguimos em direção às nossas casas mergulhados em pensamentos, em recordações. Chegámos diferentes, não tenho dúvidas em afirmar que o Caminhos nos modificou. A nós e aos que connosco se relacionam todos os dias.

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