Dia 4.
Negreira - Santiago de Compostela.
26 km aproximadamente.
O dia estava envolto numa neblina e antes de nos
fazemos ao Caminho fomos dar uma volta pela Vila. Era cedo e estava ainda tudo
muito deserto. Não chovia o que me lembro de ter sido para nós uma motivação
extra além da que tínhamos por ser este o dia que menos quilómetros nos
reservava. Os meus pés estavam efetivamente bastante melhores do que na noite
anterior: havia mazelas e o cansaço muscular era realmente enorme mas as
feridas estavam tratadas e era momento de nos pormos ao caminho. O meu joelho,
que já tinha acusado algum cansaço, nesse dia não deixou de me fazer recordar o
quanto aquela aventura o estava a cansar.
Saímos cedo de Negreira e, não sei se por ser já
o último dia, pareceu-me que a paisagem não era tão densa como nos dias
anteriores. Havia mais "civilização" e menos vegetação à nossa volta.
Pudemos ver durante quase todo o caminho, toda a paisagem, a variadíssima e riquíssima
paisagem galega em tons verdes que nem o verão faz desaparecer. Lembro-me de me
sentar sobre uma ponte, a Ponte de Maceira e de aí tirar uma fotografia que há
muitos anos está guardada no computador que desastradamente deixou de funcionar.
Lembro-me que o sol brilhava e que os quilómetros
aproximavam-nos com mais celeridade do nosso destino. Acho que estávamos com
tanta vontade de chegar que tínhamos medo que esse momento acontecesse e
deixássemos para trás todos aqueles sentimentos que estavam inerentes ao
Caminho.
No Monte do Gozo vimos Santiago ao longe, com o
sol a iluminar o cinzento das casas e a imponente Catedral. Foi para lá que nos
dirigimos para realizar o ritual característico de todos os peregrinos que
chegam a Santiago.
Quando chegámos não entrámos imediatamente mas
antes sentámo-nos no chão, tendo ali à nossa frente aquele fantástico
testemunho de fé. Não sei bem em que pensávamos mas talvez no enorme orgulho
que sentíamos por termos ultrapassado as adversidades do Caminho e estarmos
ali, no nosso destino, como 4 dias antes nos tínhamos proposto. Dissemos
algumas palavras de circunstância, um abraço de fraternal cumplicidade, uma
fotografia para a posteridade e entrámos na Catedral.
Depois de realizar todo o ritual sentei-me num
dos bancos da frente, olhei para Ele e sorri. Agradeci-Lhe ter-me dado a
oportunidade de ter feito este Caminho sem consequências físicas mais graves do
que as que poderia ter tido. Agradeci a experiência que 6 meses antes tinha
começado. Agradeci a companhia daqueles que eram a minha família e que sem
saberem fizeram parte de uma das viagens mais importantes que realizei até à
data.
Abraçámo-nos uma vez mais, despedimo-nos e
seguimos em direção às nossas casas mergulhados em pensamentos, em recordações.
Chegámos diferentes, não tenho dúvidas em afirmar que o Caminhos nos modificou.
A nós e aos que connosco se relacionam todos os dias.
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