"...E foi então que apareceu a raposa: - Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho.
Estou tão triste... - Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaste ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços? - Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol.
[...]
Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, far-me-à lembrar de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe: - Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
[...]"
Antoine de Saint-Exupery, O Principezinho.
O local de trabalho é, por diversas razões, um local privilegiado para as relações interpessoais. Dizem alguns especialistas da sociologia das organizações que o contacto interpessoal [profissional e/ou pessoal] desenvolvido no seio das organizações é um dos aspectos mais importantes para a evolução destas . A Escola é um óptimo exemplo disso.
Todos os anos as Escolas recebem professores oriundos de diferentes zonas da seleccionada. Naturalmente e de forma saudável, criam-se grupos por afinidades, gostos, conselhos de turma, localização geográfica, tempo disponibilizado na e para a escola...enfim, os critérios são mais que muitos. É a eles que dedico este post: àquele tipo de amigos que encontramos numa determinada circunstância e cuja amizade tem, à partida, os "dias contados". Como alguém lhe chamou hoje: aos amigos de circunstância.
Confesso que conheci alguns [não muitos] de quem me tornei amiga mais próxima posteriormente. Penso que, de certa forma e utilizando a terminologia de Antoine S-E, cativei-os e eles cativaram-me.
O "cativar" pode apresentar-se sob as mais variadas formas. Acho que a magia da amizade (de circunstância ou não) está exactamente aí: chega-se a si mesma quando é verdadeira. Não sei se as amizades de circunstância, deste ano, se vão manter para os próximos anos, não sei sequer se continuaremos a falar depois do regresso às cidade de origem.
O que sei, e aquilo que realmente me importa, é que os momentos de convívio, os almoços no "Ciclista", os problemas inerentes à profissão e à própria condição de "deslocado", as reuniões de conselho de turma [caracterizadas por uma heterogeneidade estonteante], os almoços no Sr. Amaral, as saídas no MED ou os lanches em Cacela Velha acompanhados por um passeio de barco (que nunca cheguei realmente a fazer) e outras tantas circunstâncias estão, inequivocamente, destinados às boas recordações.
Aos amigos de circunstância da ESTavira, pelos bons momentos, boa-disposição e simpatia que tiveram para comigo.