a tod@s os que estão nos seus 100 metros,
a tod@s os que estão no seu 7.000 metros,
ao meu Eu do futuro.
Sempre gostei de desporto. De ver [bom] desporto e, em certa medida, de praticar.
Em setembro de 2016, depois de um crescente interesse pela corrida, conheci o Nuno Afonso. Foi aí que começou mais seriamente o meu gosto/paixão pelo desporto. Percebi que o desporto trazia-me aquela sede de satisfação que sempre padeci. O desporto e, de uma forma que viria a perceber passado alguns anos, o estabelecer objetivos. Nesse ano, pela primeira vez, estabeleci objetivos desportivos:
🎯 melhorar o meu tempo na São Silvestre (uma prova pela qual tenho um enorme carinho e continua a ser A minha prova de eleição) para menos 60 mn e
🎯 correr a minha primeira meia maratona - a de Lisboa - em março do ano seguinte.
Não cabe no objetivo de escrita de hoje falar sobre o processo. O Nuno Afonso tem os registos do meu diário de bordo sobre como foi para mim preparar-me para estes objetivos, sobretudo o da Meia Maratona.
Tudo certo - objetivos alcançados:
✅ São Silvestre 2016 - 50 minutos;
✅I Meia Maratona da Água - 1h54m onde acabei por me lesionar e comprometer o objetivo da Meia Maratona de Lisboa - 1h59m.
Chega setembro de 2017 e mudo de localidade por questões profissionais (os professores têm uma vida de lorde!). Vila Real de Santo António passa a ser a minha nova casa. Um ano desafiante sob vários pontos de vista: novos alunos, novas rotinas, duas escolas. Zero exercício. Zero. Passei de treinar todos os dias para deixar de treinar. Trabalhei muito e amadureci pessoal e profissionalmente.
Chego a janeiro de 2021 e quatro ano passaram sem qualquer tipo de exercício físico regular ou mais intenso. 4 anos cheios de aprendizagens.
Não é novidade para ninguém: o nosso cérebro protege-nos do perigo. Da novidade. Do que considera poder ser potencialmente perigoso. O nosso cérebro odeia novidade(s). Exceções. Novas perspetivas. E é por isso que ele fabrica os argumentos necessários para validar esse perigo. Ele fabrica e nós alinhamos, quase automaticamente, neles porque, afinal de contas, não temos o entusiasmo, estamos cansados, estamos sem energia, sem condição física (e não começar ajudar-nos-á a tê-la, certo?), porque não temos companhia, porque não temos calçado adequado, porque não temos o relógio XPTO, porque ainda não é o momento, porque ainda não temos vontade, porque...porque... E é assim que nos vamos mantendo confortavelmente na nessa zona simpática de conforto onde confortavelmente não nada acontece.
Como escrevi, num desses dias de janeiro decidi sair para correr. Antes tinha programado o meu relógio para fazer 2.000 em 20 etapas de 100 metros com um descanso de 40 segundos. Lembro-me perfeitamente deste dia. Perfeitamente. Lembro-me de ter o mesmo sentimento de quando cheguei à meta depois de correr 21 km. Sabia que tinha dado o primeiro passo: sair de casa e contra argumentar com o meu cérebro, entrando em ação sem negociar. Nos meses seguintes continuei de uma forma mais ou menos consistente: 250 metros; 500 metros; 750 metros, 1.000 metros.
Chega a junho e frequento os treinos da equipa do Triatlo de Faro. Em julho peço ao Nuno para ser o meu treinador de corrida. Se queria regressar à corrida/treinos tinha que ser uma vez mais pela sua mão. Ele hesita, mas com a minha insistência, começamos a treinar: todos os dias, exceto ao domingo ou ao sábado treinava alternadamente natação/corrida.
Em agosto, uma fascite plantar (esquerdo) obriga-me a acalmar os treinos de corrida e decido frequentar o ginásio. Faço 40 quilómetros duas vezes por semana para treinar enquanto estou a desfrutar dos meus quinze dias de férias (Ourém - Torres Novas - Ourém). Final de agosto retomo os treinos (de corrida) com mais entusiasmo. Saio às 06h para correr e invade-me um prazer fantástico pela corrida.
Em setembro, nova mudança de Escola (a 21 km) já programada e muito ponderada. Os treinos de natação em Faro ficaram para trás porque não conseguia conciliar. Os treinos de corrida continuavam paulatinamente com o acompanhamento do Nuno. Até outubro em que mais uma fascite plantar (direito) fez com que voltasse a parar. Desta vez, até janeiro de 2022. A adaptação à nova Escola foi fantástica (está a ser), mas o trabalho e a responsabilidade fizeram com que, uma vez mais, me dedicasse a 200 % e esquecesse o essencial. A base. Nunca mais aprendo, não é?
Em fevereiro de 2022, comecei a nadar na piscina antes de ir dar aulas. Março 2022, passei a ter uma rotina de treino: 2 km, 3km, 4 km (na loucura da long run!). Passei a apreciar cada treino, por muito que ficasse aquém do que já tinha feito ou do que queria fazer. Passei a nadar mais vezes e a levantar-me ainda mais cedo para correr 2/3 ou 4 km antes de ir diretamente para a piscina da cidade onde trabalho.
A foto que publico hoje é o meu treino de ontem. O mais longo dos últimos meses: 7.000 metros contínuos. Mais 4.000 metros alternados (750 corrida + 250 caminhada) + 6 rampas. Nesta foto estou a olhar para ela (a rampa) e a pensar “mas onde raio vou eu buscar a força para fazer isto?”. E pensei no que a querida e triatleta olímpica Melanie Santos me disse, já nem sei a propósito de que pergunta, há relativamente pouco tempo quando me deu o privilégio de trocar quase duas horas de conversa com ela: “estabeleces pequenas metas durante o percurso: é só até ali”. Salvaguardadas as distâncias entre ambas, de metro em metro, é só até ali. E foi.
Quero dizer com isto que, seja onde for que estejas. Seja qual for o desafio com qual te depares neste momento, não desanimes nos teus 100 metros ou nos teus 7.000. São teus.
Traduzem o teu esforço, o teu sacrifício, o teu trabalho. Não os compares. Sê persistente. Sê otimista. Confia no processo ou muda o processo.
Caso não resulte, muda-te a ti e a tua perspetiva sobre o processo. E principalmente, celebra.
Isto não é sobre corrida.
É sobre o que quisermos que seja. 💪🎯🏆🎽