sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre a Vontade


Estamos a um escasso dia do final do ano. Não vou fazer a tradicional retrospetiva (ou pelo menos não a vou fazer hoje, fique o leitor descansado!) mas antes deixo aqui escrito neste último comentário do ano algumas palavras de incentivo para aquele (ano) que não tarda está a entrar.
Este texto escrito por Will Durant é dedicado a todos os que este ano, mas essencialmente no próximo, não se deixam ir por comodismos; aos que arregaçam as mangas e deitam mãos ao trabalho; aos que não fogem de um bom desafio; aos que estão aqui ao lado para um abraço ou uma palavra; aos que não vão em futilidades e aparências.  


"A Prática Fomenta a Vontade


 Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de comprender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do carácter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do carácter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.

Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do carácter. Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo.

Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objectivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. A prudência aqui reduz-se a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-à, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá. A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.


Will Durant, in "Filosofia da Vida"

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sobre o Amor

O Amor. (ponto) Uma melodia cantada Uma empatia criada entre : (dois pontos). Um sentimento partilhado, Um segredo confessado, Um beijo pelo Santo abençoado. O Amor? (interrogado) de futuro(s) incerto(s) e desencontrados. De dúvidas e certezas formuladas num toque, num olhar num sorriso ao luar. Na saudade sentida. Desmedida. O Amor! (exclamado) Um suspiro, um reencontro, O mais-que-tudo na vida, O ar que se respira A felicidade que delira. O ser amado que inspira. Tu,

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Outra vez Sobre o Regresso

Nesta altura do ano a rotina é sempre mais ou menos a mesma: conhece-se uma escola nova, colegas novos, novos alunos e expetativas renovadas. Depressa a(s) experiência(s) menos agradáveis do ano anterior (se as houve) ficam para segundo plano e o regresso não é assombrado pela quantidade inacreditável de trabalho que não tardará muito a aparecer nos cacifos de quem, segundo a generalidade da opinião pública, "ganha bem, tem demasiadas regalias e não trabalha".
Para mim, o início do ano letivo é sempre uma lufada de ar fresco. Este está para o professor como o final/início do ano para os restantes cidadãos: planos reformulados, projetos equacionados, percursos mais ou menos definidos...
Ontem regressei à azáfama das aulas, como aliás, a grande maioria das escolas no país, mas a adrenalina de chegar a um lugar "novo" e o nervoso miudinho de conhecer aqueles com quem trabalharei ao longo de alguns meses, esse nervoso miudinho que qualquer ator mais experiente diz continuar a ter mesmo após os anos de trabalho, esse nervoso miudinho de quem enfrenta o desconhecido, de quem quer que se trabalhe bem e que seja um bom ano... esse existe sempre. 
Não sei se estou a dizer alguma asneira, e o leitor que já me conhece talvez saiba melhor do que ninguém que essa é uma possibilidade, mas penso que é positivo que ele (o nervoso miudinho) exista. Penso que será uma forma de respeitarmos as pessoas com quem vamos trabalhar. 

Não obstante as mudanças que na primeira quinzena de setembro ocorreram na minha vida estou realmente otimista em relação ao que virá! Será, de certeza, mais uma experiência pessoal e profissionalmente enriquecedora.


"A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo."

Nelson Mandela


domingo, 11 de setembro de 2011

Sobre a Salvação de Wang-Fô

Estes meses de Verão têm sido bastante frutíferos no que a leituras diz respeito. Felizmente, por entusiasmo sem limites, por excesso de tempo livre ou por saudades do ato de ler por prazer, as leituras dos últimos meses têm-me levado por caminhos tortuosos até a um misterioso Mosteiro no século XIV, a Trás-os-Montes e uma história de amor em pleno Estado Novo, até Einstein e à Fórmula de Deus ou, mais recentemente, a personagens e lugares misteriosos cheios de misticismo típico dos contos Orientais. Hoje apetece-me falar deste último A Salvação de Wang-Fô e outros contos Orientais da escritora belga Marguerite Yourcenar. O pequeno livro de contos, compilação da editora Biis, com um preço simpático foi a minha companhia durante a viagem de Lisboa-Faro na passada sexta-feira.
Este pequeno livro esconde personagens míticas de lentas e historias orientais de todos os tempos e foi muito fácil envolver-me nas suas motivações e ensinamentos constantes.
A Salvação de Wang-Fô, ou a Fuga de Wang-Fô, é o primeiro texto que aparece na referida compilação.
Nele, Wang-Fô é um velho e famoso pintor que, sem encontrar raízes no lugar onde vive, decide partir na companhia de um aprendiz de pintor, Ling. Wang-Fô é um apaixonado pela arte e pela pintura que troca para ter o que comer e onde dormir. Um dia, num dos lugares onde haviam pernoitado durante a sua viagem, foram capturados e levados à presença do imperador. Este condena Wang-Fô e Ling à morte e explica as suas motivações. É então que o poderoso imperador revela que em desde q nasceu foi encerrado num quarto e, desta forma, privado do contato humano. O que lhe fazia companhia, a sua realidade e a sua janela para o mundo era uma coleção de quadros pintados por Wang-Fô com paisagens fantásticas que o seu pai tinha adquirido. O imperador crescera e havia viajado por todo o mundo e conhecido muitas cidades e visto muitas paisagens e nesse momento sentira-se injuriado uma vez que as paisagens que sempre conhecera na sua infância, as pintadas por Wang-Fô, eram infinitamente mais belas e deslumbrantes do que as reais. O irado imperador culpabilizava o velho pintor por este o ter iludido. Sentia-se enganado e por esse motivo Wang-Fô devia morrer. Este, no entanto, tinha um último pedido ao pintor: que terminasse de pintar um quadro seu que não tinha sido terminado. Devia terminá-lo e posteriormente ser-lhe-iam cortadas as mãos e entregar-se-ia à morte.
Wang-Fô assentiu e começou a pintar o seu quadro mas, enquanto o ia pintando o quadro ia ganhando vida e lá apareceu Ling, o seu companheiro de aventura, dizendo-lhe que não se preocupasse que tudo correria bem. O desenho à medida que ia sendo pintado foi-se tornando vida: um rio e um barco. O mesmo rio e o mesmo barco que o levaram, a ele Wang-Fô e a Ling, para longe daquele lugar e de uma sentença de morte.
O texto tem um final misterioso e mágico onde a pintura se funde com o pintor e se torna a sua própria fuga e, portanto salvação da morte. 
Este texto fez-me recordar, em termos muito gerais, um dos meus livros preferidos O Retrato de Dorian Grey de Oscar Wilde em que no final, ao cortar o seu retrato, um retrato que ganhando vida ia envelhecendo, corta-se a ele próprio que acaba por sucumbir. Também recordo aqui alguma alusão, algo dissimulada e com nuances distintas, à metáfora da Alegoria da Caverna de Platão numa referência à (s)realidade(s) ilusórias.

Penso que o segredo é este: se amamos o que fazemos, se acreditamos no que construímos e no que nos rodeia, se confiamos na nossa realidade então não vale a pena pintar realidades diferentes, embora saibamos que elas existam, não vale a pena. Pelo contrário, deixemos que essa [nossa] realidade nos salve, deixemos que ela seja um barco e que esse barco nos guie.

Sobre a essência de ser Português

Há uns dias regressei de mais uma estadia na capital. Na Baixa-Chiado encontrei Fernando Pessoa que cumprimenta generosamente os que por aí chegam à cidade. É sempre inspirador começar o passeio na sua companhia e eu por muitas vezes que lá possa ir não me canso de o admirar. Daí até ao miradouro do Adamastor não demorou muito tempo e a paisagem, não sendo novidade, continua a deslumbrar. Regresso às ruas de uma cidade apressada, de buzinas e azáfama cosmopolita e desemboco na afamada Praça da Alegria e, sem me dar conta, estou na Avenida da Liberdade onde em Junho, em comemoração do Santo Padroeiro, desfilam as marchas dos bairros que compõem o ADN desta Lisboa.
Dos Restauradores ao Rossio, sem parar, percorro outras ruas que me levam até à heterogeneidade patente em cada rosto dos que cruzam o Martim Moniz e alguns passos depois, sem saber exatamente como, estou no Miradouro de Santa Luzia e no Museu do Teatro Romano. Na Graça, outro ponto essencial deste passeio: o miradouro sobre a cidade, o Castelo, o Tejo, a Ponte 25 de Abril, as Ruínas da Igreja do Carmo e tantos outros pontos de interesse. Altura ideal para colocar algumas coisas no papel e refrescar-me com uma garrafa de agua.
Alfama, ainda engalanada com as cores dos Santos Populares, abria-se no horizonte com o labirinto de compridas e estreitas ruas. Em Alfama sente-se o batimento cardíaco da cidade, das suas gentes castiças, do bairrismo, do tradicional, das escadarias intermináveis a uma hora em que o calor se fazia sentir de uma forma intensa. Assim como rio que desemboca no mar fui encontrar, depois de descer umas quantas escadas, uma praça na qual estava situado um dos pontos que queria visitar desta vez: Museu do Fado.
Peço desculpa ao paciente leitor que deverá estar a questionar-se sobre a pertinência do tema tendo em conta o que até aqui foi escrito. Na realidade, caro leitor, a pertinência revelar-se-á nas linhas que se seguem.
O Museu do Fado. As letras negras num fundo verde faziam-no anunciar e eu deslizei para o seu interior sob una hipnose (não sei se pelo calor, pela excitação ou por ambos!) e nesse momento  revi o sentimento que  experimentei em lugares como o Panteão Nacional ou em situações como cantar o Hino Nacional ou ouvi-lo entoar por um grupo numa praça cheia de gente numa cidade estrangeira depois de estar 6 meses longe da Pátria. Nesse momento senti  que estava a revelar-se-me o que somos, a nossa história, aquilo que geração após geração herdamos dos nossos antepassados, não dos antepassados individuais mas dos antepassados coletivos que fazem com que sejamos o que somos hoje.
A visita ao Museu do Fado durou o tempo necessário para ser inesquecível, para me proporcionar momentos de nostalgia, para aprender, para me emocionar, para me orgulhar e para querer voltar.

O ser português é assim: sério, genuíno, apaixonado, comovido, arrebatador, bom garfo, sorriso nos lábios e algo resignado. Ser português é algo que se sente, é ser-se gente!


domingo, 20 de fevereiro de 2011

O [ines]quecível projeto

Há cerca de dois anos iniciei mais uma etapa na minha vida profissional. Ingressei, em Março de 2008, no Mestrado em Ensino de Línguas que me confere a habilitação profissional para a docência.
Esta viagem que, ainda esta semana, está próxima de chegar ao fim fez com que me aproximasse mais de mim mesma, dos meus valores e as minha crenças pessoais e profissionais. Fez com que valorizasse, ainda mais, o indivíduo como ser único e autónomo. Fez com que me encontrasse profissionalmente e delineasse o caminho pelo qual não quero, em definitiva, seguir.
Da imensidão de lições de retirei dela guardo essencialmente uma muito simples e que abrange todos os âmbitos desta fase/etapa.
Esta diz respeito à luta incansável pelo que se deseja e a crença em que querer é realmente poder. Foram dois anos e meio de lutas constantes contra o tempo. Penso que, em alguns momentos questionei mesmo se o dia tinha realmente 24 horas porque a mim parecia-me que tinha 28. Lembro-me das noites intermináveis à procura de "tarefas", "objetivos", "competências" e atividades". Lembro-me de procurar incessantemente um "porquê" para justificar todas as minhas opções. Lembro-me de pensar que enquanto me esforçava para ser o menos imperfeita possível enquanto professora estagiária sentia-me descurar o meu trabalho enquanto professora das minhas turmas reais, do quotidiano. Da maioria das questões que me foram colocadas, esta foi a única que deixei sem resposta. Esta foi a única que não consegui justificar.
Claro que neste momento tudo me parece relativo e supostamente alcançável. Claro que nem tudo foi assim sempre tão claro e explícito para mim.
Esta semana, independentemente do que possa acontecer no que diz respeito à argumentação e defesa do meu trabalho, vou assistir à concretização de mais um sonho e esta sensação é das mais pessoais e intransmissíveis que se pode sentir.
Como diz um dos post-it colado na porta do roupeiro "Eu consigo!!"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sobre os 30

Já tive oportunidade de referir aqui que há umas semanas atrás completei 30 anos de existência. Não fazia muita questão de os comemorar especialmente mas, entusiasmada por alguns amigos decidi que faria "qualquer coisa". Depois de um sem fim de ideias que me pareciam pouco exequíveis por limitação de espaço, por exemplo, acordei um dia no início de Dezembro com uma ideia. Transcrevo, em seguida, o seu resultado. "Olá a todos, O Banco Alimentar Contra a Fome apareceu na minha vida através da Tuna Académica Feminina da Universidade do Algarve - Feminis Ferventis numa animação que tivemos enorme orgulho em fazer nos armazéns da Sede naquele chuvoso fim-de-semana de Dezembro. Lembro-me muito bem desse dia e dessa actuação. Há actuações assim, em que gostamos tanto, somos tão bem recebidas e acolhidas que é difícil esquecer. Depois de ajudarmos durante algum tempo no processo de selecção e armazenamento dos alimentos, alguém da direção falou-nos um pouco sobre a história do Banco Alimentar no Algarve, a sua abrangência e a forma como os alimentos eram distribuídos. Embora vos envie este mail a título individual sei que saímos de lá com o coração cheio de orgulho pelo vosso trabalho. Saímos de lá, também, com algumas ideias para Maio. Foi uma experiência importante para mim/nós. Fizemos aquilo que gostamos de fazer: sermos úteis, de alguma forma, para a comunidade que nos rodeia. A experiência foi tão agradável e produtiva que, como disse, não quisemos/quis deixar de continuar a alimentar essa ideia. A 3 de Janeiro comemorei o meu 30º aniversário. Não fazia questão de o comemorar até acordar um dia com um bom motivo para o fazer. Assim, convidei alguns bons amigos a juntarem-se a mim nessa comemoração. O convite era simples: cada convidado deveria levar alguma coisa para beber/comer para o piquenique nocturno que faríamos. Cansada da época consumista que até aí tínhamos estado a passar, sugeri que em vez do tradicional presente de aniversário, os meus convidados trouxessem um (ou mais) produto(s) alimentar(es) para serem posteriormente entregues ao Banco Alimentar (chamei-lhe um dress-code!). O objetivo era triplicar a minha idade em quilos. Não sei se foi alcançado, mas sei que a sua generosidade foi enorme. Assim sendo, o motivo deste mail é perguntar-vos quando é que podemos ir até à Sede entregar os ditos produtos. Neste momento eles encontram-se na sala da tuna mas já é tempo de irem para onde são realmente úteis! Sem mais assunto de momento," A todos os que estiveram na sala da tuna naquele dia e aos que mesmo querendo não puderam estar, por me acarinharem, por gostarem de mim e por "alinharem" comigo nesta ideia, o meu muito, muito obrigado! Obrigada por terem tornado este dia/comemoração INESquecível!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sobre a ilusão

Às vezes tenho a presunçosa ideia de que aos 30 anos já tenho alguma bagagem no que a vivências diz respeito. Penso, algumas vezes, que determinada experiência fez-me aprender e, por esse motivo, enriqueceu-me vivencialmente.

É curioso pensar nisto desta forma quando ainda hoje escrevi noutro lugar que o meu processo de aprendizagem era constante. É, pensará com toda a razão o leitor mais atento, uma incongruência. Daquelas incongruências que, em algum momento, fazem sentido. Daquelas que são difíceis de explicar.

Talvez neste momento esteja numa posição privilegiada para dizer que por muito que possamos viver, por muito intensas, adversas ou agradáveis possam ter sido as nossas experiências de vida, nunca aprendemos demasiado, nunca aprendemos tudo, numa prevemos as duas mil situações e combinação de situações que ainda podem acontecer connosco.

Eu, até há dois dias atrás, estava iludida pelo retrato colorido que costumo pintar do que me rodeia. Pela tolerância do ser-se o que se é e do ser-se como se é. Pelo respeito pelo trabalho de quem comigo partilha o mesmo espaço.

Eu, até há dois dias atrás, estava demasiado confiante nas experiências que tinha vivido e no quão importantes foram e nas imensas lições que retirei delas.


Eu hoje dei-me conta que não sei nada, não aprendi nada.

Ernesto Guevara de la Serna, no final da sua viagem pela América Latina diz qualquer coisa como: Eu já não sou eu, pelo menos não o eu que fui. Eu hoje acrescento Eu já não sou eu. Pelo menos não o eu que fui [ontem].


Parece que a
viagem ainda agora começou!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Sobre o Amor Puro

Ontem a minha querida AML deixou um link na janela do msn. Eu estava offline e só hoje pude ver até onde me levava. O mais interessante no link não é exatamente o blog em si mas o texto que ela queria que eu conhecesse. O texto é de Miguel Esteves Cardoso, originalmente escrito no Jornal Expresso de 2005, se não estou equivocada, e tem como título "Elogio ao Amor". Transcrevo-o, sem mais palavras, em seguida.
"Quero fazer um elogio ao amor puro. parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Por que são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reunem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida é na medida do possível. O amor tornou-se numa questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de repreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bica, alcançadores de cxompromissos, bananoides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desiquilibrio, o medo, o curso, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é o estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Nâo é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la Também."
Enquanto me deixava levar pelas palavras, recordei alguns episódios de amor puro que vivi ao longo destes 30 anos. Independentemente do desfecho que lhes/lhe dei/deram foram episódios que recordo com muita nostalgia. Não no sentido de querer que regressem mas no sentido em que naquele tempo eu fiz coisas extraordinárias porque acreditava nesse tal Amor Puro. Penso que é o que me falta :um motivo para voltar a acreditar nele.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sobre [uma] retrospetiva

Quando chegamos ao final de mais um ano é quase inevitável não nos determos algum tempo sobre o ano que termina. Eu, a mais comum das mulheres portuguesas, faco-o constantemente e portanto este final de ano não foi exceção.
Foi um ano cheio de agradáveis supresas. Foi um ano cheio de concertos e descobertas musicais. Foi um ano cheio de trabalho e espírito de sacrificio. Foi um ano cheio de amizade. Foi um ano cheio de momentos felizes partilhados. Foi um ano de inter e intraconhecimento. Foi um ano cheio de aventuras em terra e ar. Foi um ano cheio de solidariedade. Foi um ano com objetivos cumpridos e sonhos realizados. Nada disto faz do meu ano um ano especial para o leitor que pacientemente lê estas linhas. Nada disto pode parecer excecional aos seus olhos. Mas este ano, só porque o vivi. Só porque o partilhei com pessoas fantásticas que me tornam uma pessoa melhor todos os dias. Só porque foi o MEU ano, este ano foi sensacional. O leitor assíduo deste blog saberá que a mensagem otimista que passo do ano que agora findou não é novidade. Para o leitor que não conhece e que, por algum [bom] motivo vem a este espaço virtual, não deve duvidar destas animadas palavras. Elas existem porque fazem parte de mim, porque são a concretização do que eu sou e do que quero transmitir.
Aos leitores que estão habituados a ler estas palavras otimistas mas principalmente aos que não acreditam nelas nestes tempos de crise, desejo que em 2011 tenham, essencialmente, coragem para fugir ao habitual, ao mais fácil e cómodo. Que em 2011 concretizem o que até 2010 tinha ficado em plano no papel. Não precisa de ser um grande empreendimento ou feito aos olhos dos que vos rodeiam. Mas que seja um grande empreendimento pessoal, só vosso! Tenho a certeza que serão capazes de o fazer se se atreverem a isso.
Como dizia Antoine Saint-Exupery em O Principezinho: "É a importância que dás à tua rosa que a torna especial."
Sensacional 2011 para todos!