As repercussões físicas e anímicas desta viagem ainda hoje se fazem notar. Fisicamente, estive um mês com dores musculares. Os meus pés e joelhos nunca mais foram os mesmos e embora continue a fazer as minhas caminhadas de fim de semana e a praticar desporto, "eles" chamam-me à atenção quando o esforço é demasiado.
Não é possível descrever o alcance desta viagem na minha vida. Meses mais tarde escrevi a uma amiga a contar algumas coisas e disse-lhe algo semelhante a isto: "Não vais acreditar mas fiz o Caminho de Santiago. Mais tarde conto-te os detalhes desta extraordinária viagem mas, por agora, digo-te que este Caminho que há meses deixei e que me parece ter sido ontem que entrei no Obradoiro, é a metáfora de uma vida." Uma vida, digo hoje, com lágrimas e obstáculos para ultrapassar, uma vida em que os amigos fazem realmente toda a diferença. Uma vida em que a adversidade da chuva miudinha pode levar-nos tanto ao desespero como fazer com que esta se torne um motivo para caminhar mais depressa. O Caminho (ou será a vida?) faz-nos pensar com cautela, seguir em frente quando não há forma de voltar para trás. Mesmo quando a floresta se adensava sobre nós havia uma beleza nessa imensidão que nos fazia esquecer o medo e a incerteza. Depressa aparecia o riacho para nos refrescarmos ou um galego simpático que nos oferecia abrigo da chuva que gentilmente recusávamos porque não podíamos perder de vista o nosso objetivo, mesmo que nos apetecesse parar, mais hora menos hora, com mais ou menos chuva, teríamos que lá chegar.
O Caminho fez-me reencontrar com os meus verdadeiros valores através de uma lição de e para a vida.
Eu encontrei-me no Caminho e, sem poder voltar para trás, segui em frente. Dessa vez e em todas as outras.
Sem comentários:
Enviar um comentário